É incrível como nos vendemos por tão pouco

11:30

Até pouco tempo, imaginava que teria várias profissões diferentes, das mais absurdas as mais banais, como fazendeira ou agente do FBI, cientista ou artista plástica, médica da cruz vermelha na Etiópia ou engenheira ambiental enganjada, jornalista internacional que cobre qualquer desgraça alheia ou grafiteira, designer descolada, estilista reconhecida, cabeleireira especializada em repicados, tatuadora de desenhos estilizados, escritora de ficção-não-ficção... Sempre me vi naquelas atividades criativas, que tem sérios riscos de não dar certo, da nunca dar grana (mas dar felicidade), sempre me vi uma pessoa alternativa, diferente, inteligente, independente, daquelas que tem horror de politicagem, de desonestos, horror de funcionário publico que passa as horas vendo revistinha da 


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Hoje, terça-feira, dia 10 de maio – a 19 dias de meu 20º aniversário, eu estou a mais um dia sem chefes aqui no meu serviço. Todos meus oito processos de termo aditivo aos 1512 processos emperraram na Procuradoria Jurídica e estou, literalmente, sem nada pra fazer. Obvio que, se eu for mexer nos arquivos, eu acho algo que tá vencido, algo que tá pra vencer, mas o mais obvio ainda é que me encontro extremamente desmotivada nem que seja pra ir ali, tomar um cafezinho.


Olho ao redor: todos estão na mesma que eu. Alguns conversam, outros ficam apenas olhando pra tela preta do computador, outros fazem cara de compenetrados e, se observarmos bem, é só isso mesmo: a cara. Parece que toda internet do mundo não tem mais nada de interessante, todas as noticias já foram comentadas com meus colegas, todos os sites engraçados perderam o sentido de serem engraçados. Nenhuma rede social me anima a querer saber de (mais) fofocas de outras pessoas. Tudo coisas que não me dizem respeito, não me chamam atenção. Quanta frivolidade.


Minha cidade feliz do facebook todos os dias sobe um nível, devido a tantas vezes que fico de bobeira nelas. Meu twitterhá horas que não aparece uma conversinha comigo. Cansei de ler a Bíblia do Cético Comentada pela web. O livro que está na minha bolsa ficou sem graça. Escrever dói a mente, os dedos, as articulações, a vista. Tranquei a faculdade para estudar – e até agora eu não peguei num livro com esse fim. No MSN, ninguém está falando comigo. Será que eu me vendi mesmo por tão pouco?

Olho de novo ao redor: um acadêmico de Direito, dois contadores, três administradores, uma turismóloga e até ontem, uma veterinária também: todos parados durante oito horas diretas, num trampo pra receber 2,3 ou 4mil ao mês. Devo ser uma das que recebe menos aqui (sou uma das que ainda não tem 3º Grau – e nem vou ter tão cedo), mas com certeza não sou a que menos se sente desmotivada. Todos estão resfolegando, respirando fundo, alguns com frio, outros com calor, todos no tédio, esse tédio (sem remédio) que sofremos quando ainda não apareceu alguém pra defecar na nossa cabeça e nos dar 15 coisas diferentes para fazer. Todos esperam.

continuo outro dia, quando tiver mais motiv

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1 comentários

  1. Muito isso né Bah, caímos nas repartições públicas da vida adulta. Perdemos os sonhos pelo caminho e o tédio nos consome cada vez mais! =/

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