Como me tornei vegana

14:19

Minha amiga Lari Pestana tem coragem de fazer vídeos falando abertamente sobre temas diversos, até mesmo sobre problemáticas que não a atingem de fato, mas que lhe despertam interesse. Semana passada ela me perguntou se eu toparia de colaborar no vídeo que ela fará sobre veg(etari)anismo e claro que concordei, mas por questão de agendas só poderei contribuir com meu relato sobre o tema, que segue abaixo :)

Sou militante desde adolescente. Minhas primeiras lutas foram por movimento estudantil, retiros católicos, ai, diversas coisas. E me lembro que um dia cheguei a ver uma imagem semelhante a esta ao lado que me levantou curiosidade, mas não dei a devida atenção na época. Devia ter uns 15 anos e ainda tinha muito o que amadurecer para entender realmente a mensagem atrás da imagem.

Um belo dia, quando estava com lá meus 20 anos, depois de sair da casa dos meus pais, passar um pouco de necessidade 'na rua' e estar dependendo de ajuda dos meus então sogros para me alimentar etc, fui fazer um cachorro quente na casa deles com aquelas salsichinhas de boteco, sabe? Daquelas que vem num pote grande com vinagre e são meio azedinhas? Então. Enquanto cortava algumas para por no molho, fui comer uma e TCHARAM, veio um pedaço de plástico dentro. Tá, na ocasião ficamos todos com nojo mas acabou que os presentes comeram o dito cujo do hotdog (eu inclusa) e ficou por isso mesmo.


Na semana posterior fui procurar como que esse tipo de "alimento" é feito e confesso que o que vi me fez cortar, no mesmo dia, todo e qualquer tipo de carne superprocessada pra sempre da minha dieta. Não foi o mesmo vídeo que posto aqui embaixo, mas algo semelhante:




"Como assim eu nunca tive acesso a esse tipo de conteúdo?!" me perguntava. Logo eu, que sempre busquei estar informada sobre o que comprava - e militava para sermos menos consumistas - nunca tinha parado pra pensar no óbvio: nosso combustível. Exato. O que mandamos pra dentro, literalmente. Se realmente "somos o que comemos", esse tipo de "alimento" não deveria sequer ser vendido!


Conversa vai, conversa vem, troquei ideia com a mãe da minha ex e ela me contou alguns detalhes de como era o frigorífico que ela chegou a trabalhar por um tempo... Não vou entrar em detalhes para não ser desagradável, mas ela citou coisas como piscinas de sangue (onde os bovinos sangram até efetivamente morrer), e de como seus "miúdos" ainda chegavam quentes para que ela os limpasse e mandasse para o setor de embalagem... Enfim, para uma pessoa com o mínimo de empatia que eu era (e hoje sou muito mais), ouvir isso foi um tiro na minha cara... Nunca tinha pensado em como tudo que eu consumia vinha desse tipo de negócio!


Nesse ponto, umas duas semanas depois do ocorrido da salsicha, eu já tinha decidido que não iria mais comer carne processada e carne bovina, por não concordar com o método de abate desses animais (e por não admitir que continuaria comendo carnes bizarras como é o negócio que vem em formato de salsicha, linguiça, mortadela etc., para o consumo humano). Foi uma decisão até fácil de tomar, apesar de todos que estavam na minha volta ridicularizarem meus esforços...


Na época já tinha decidido que iria cortar "aos poucos" os outros tipos de carne, mas ai tive uma série de conversas com um amigo que me dava caronas todos os dias e que, coincidentemente, estava fazendo o trabalho de conclusão da pós-graduação num frigorífico... Ouvi outros relatos terríveis :'( e intensifiquei as buscas sobre vegetarianismo (questões nutricionais, substituições, verdades e mentiras, etc.) até encontrar o blog do meu amigo Robson Fernando, que foi meu tutor, teve paciência e didática para me dar um norte e incentivo em rumo a uma vida sem crueldade.

Isso foi em 2011, onde comecei a estudar de vez o veganismo e me apaixonei pela causa. Como qualquer iniciante, queria uma data para comemorar e defini que a partir do primeiro dia de 2012 não iria mais comer nada derivados de animais. Foi muito engraçado porque estava em um aniversário na virada de ano novo e queria muito um pedaço do bolo, mas como só cantaram o parabéns depois da meia noite fiquei sem!

2012 - Estava só a capa do Batman e não me
dava conta, e ainda achavam "bonito"
Só que essa determinação sem apoio, nenhuma disciplina e falta de organização pessoal me fez mal, claro. Emagreci muito, ao ponto de cheguei a usar calças 36, algo que não ocorria desde meus 13~14 anos, fiquei anêmica e, juntamente a um monte de outros problemas particulares (término de um namoro muito conflituoso e longo, primeiro ano tendo que conciliar uma faculdade integral mais meu trabalho que também é integral, falta de tempo/empenho em programar minhas refeiçoes, enfim), 'quase' entrei em depressão. Digo 'quase' pois não tive acompanhamento psicológico durante essa fase para ter um diagnóstico, mas sei cá com meus botões que não foi nada fácil. Como voltar a consumir carnes me era/é inadmissível e como precisava começar a comer fora de casa para efetivamente me alimentar, voltei a comer derivados em outubro de 2012.

2013/2014 - Alguns (muitos) quilinhos
 a mais, mas me "alimentando".
Sei que é contraproducente falar disso, mas sou sincera: nessa época estava acostumada a ficar longos períodos sem ingerir nada, as vezes mais de 16~18 horas só com café, biscoitos e água no trabalho, e as vezes uma paçoca ou pipoca doce na universidade, ou seja: claro que iria adoecer. Voltar a comer derivados foi uma decisão difícil para mim na época, pois já não considerava aquelas "comidas" como alimento de fato. Quando me "permiti" minha construção social falou mais alto e minha gula reinou: me entupi de queijos, iogurtes e ovos de todas as formas, acabei por engordar quase 20 quilos e isso prejudicou ainda mais meu quadro de 'quase' depressão (claro), mas essa questão de auto-estima, gordofobia e amor próprio fica pra outra postagem...

Fiquei nessa crise durante todo ano de 2013 e começo de 2014, até que com o apoio da terapia e de um grupo de vegetarianos de Campo Grande que, assim como eu, acreditam que ser vegana não é difícil, o difícil é ser vaca, galinha, peixe, cabra, etc., mesmo estando em Mato Grosso do Sul, terceiro maior "produtor" de carne do país, onde há 9 vacas para cada ser humano (sem contar as populações de galinhas, porcos, cabras, avestruz, etc) decidi seguir minha consciência. Renunciei de vez os derivados e desde então me equilibro numa dieta vegana racional, onde me dou o direito (ou seria o dever?) de comer no mínimo quatro vezes por dia: café da manhã, almoço, lanche a tarde e jantar. 

2015 - foto do mês passado :)
Nessa emagreci de novo e desde então estabilizei no meu tido "peso ideal", algo em torno de 62 quilos. Óbvio que agora passei a separar horas do meu dia para preparar alimentos e isso consome a parte que me sobraria para estar estudando, dormindo, fazendo TCC, assistindo filmes e etc, mas me alimentar "virou" algo fundamental no meu cotidiano - até por que senão tudo que milito vai por água abaixo, sem energia não consigo carregar nenhuma bandeira, além de continuar só me arrastando. Óbvio também que minha atual companheira me ajuda muito nesse aspecto da alimentação, me cobra bastante para não ter mais jejuns prolongados, me ajuda com marmitinhas que comecei a trazer todos os dias para o trabalho e com lanches que ela leva na universidade para nós duas...

Enfim, agora estou mais saudável e mês passado finalmente sai da anemia! Com ajuda terapêutica e muito amor em casa sai da 'quase' depressão e estou tratando minha ansiedade doentia, agora só falta me planejar melhor para tocar a monografia e terminar mais um sonho, que é finalmente ter meu diploma, sair do funcionalismo público e trabalhar na área, mas um passo de cada vez :)

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Lari querida, agradeço por ter me motivado a escrever esse texto, você provavelmente não tem noção nunca do quanto colocar isso por escrito me aliviou a alma! E bora lá, coragem pois sei que você tem um pezinho no lado verde da força, e se eu consegui você também consegue! Vou deixar um documentário (sem cenas fortes) aqui para te motivar - e também como forma de agradecimento a todos que tiverem paciência de ler esse relato até aqui. Até a próxima! 

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