Diário das crises #1

07:13

"Tentar ser forte em todo e cada amanhecer". Quando ouvi essa música, lá pelos 14, simpatizei demais sem entender os motivos. Até hoje é só ouvi-la me vem aquele nó na garganta característico das coisas que batem direto na alma, sabe? Para mim é a mais sincera e dolorida da Legião para se ouvir. Mas claro que não me colocava no lugar de Clarisse, afinal, eu era "normal", certo? Não era do tipo de pessoa que fica por ai sendo daquelas modinhas clássicas que "meditam", "praticam yoga", "tem depressão", etc., certo?
Surpresa pelas ruas de Campão. Foto: Bárbara de Almeida

Errado. E poder colocar isso para fora é extremamente libertador, mesmo que tardio. Me segurei tanto em tantas coisas que queria por conta dessas paranoias que, olha, poderia escrever um livro das coisas que meus medos me impediram de seguir. Quiçá uma enciclopédia, de tanto que estudei de cada uma delas e não as coloquei em prática. Nenhuma mesmo.

Hoje vejo que tudo isso derivou de vários fatores, silenciosamente ignorados por uma série de pessoas que deveriam ter/demonstrar mais interesse em cumprir com suas responsabilidades do que de fato tinham/expunham. Não estou mais aqui para julgá-las: agora entendo o peso que as limitações individuais de cada um de fato impedem nossa vida - e melhorar minha percepção sobre esses "pontos fracos alheios" me faz aprender demais, nem que seja pelo contraexemplo. É doloroso admitir isso tudo, mas de nada adiantará ficar procurando culpados.

"O que importa não é o que fizeram conosco,
e sim o que faremos do que fizeram conosco" (Sartre)

Agora sob serio acompanhamento médico e psicológico (acredite, falar sobre isso abertamente também me é uma libertação) que consigo digerir algumas coisas, fatos inclusive sobre aquela Bárbara lá dos 14 que tinha medo de seguir "modinhas" e ser "problemática". Agora entendo e falo abertamente sobre autoestima, ansiedade, depressão, crises de pânico, bulimia. Não necessariamente nessa ordem, mas todos presentes em minha vida, em maior ou menor grau, depende da época. Isso tudo faz parte do tratamento que pre predispus a fazer - e que farei enquanto for necessário.

Não que esteja tudo sob controle (de fato está tudo ao avesso e só agora que estou começando a arrumar a estante que mal acabei de limpar), mas agora vejo que preciso organizar algumas percepções, sentimentos, opiniões, etc. Sim, é preciso chorar sozinha, é preciso lamber as feridas sozinha, é preciso passar por determinadas épocas sozinha, mas não preciso mais me isolar para entender isso tudo: é preciso saber receber ajuda e é preciso saber buscar ajuda também.

Por enquanto sigo nesse passo de um dia bem, outro não, um dia estável, outro não, um dia calmo, outro cheio de ansiedades que me sufocam, paralisam. Um dia que consigo vestir máscaras para atuar como se estivesse tudo ok, enquanto em outros não preciso delas para ficar efetivamente bem.

"Mas um dia eu consigo resistir". Sei que nada vai mudar "pra sempre". Minhas características estarão sempre por aqui. Meus gatilhos estarão sempre armados, esperando um descuido para me aprisionarem de novo. Para me derrubarem de novo. Mas de um tempo para cá, quando passei a identificá-los, comecei a dançar ao redor deles, e isso tem me feito bem: me colocou em movimento. Muito bem - inclusive recomendo fortemente a quem passar pela mesma situação.

Quis falar sobre a ansiedade hoje e quanto isso tem  me custado (tive um surto ontem), mas saiu algo totalmente diferente do que previ e, quer saber? Gostei. Depois escrevo mais sobre como essa querida tem me paralisado (ou não). Talvez um dia eu seja afastada de novo de minhas funções por conta dela (ou não). Talvez um dia eu fique meses sem um ataque - ou não. O importante é que pretendo lutar e resistir. Afinal, como uma amiga minha me falou ontem, ainda pretendo mudar o (meu) mundo.

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