É diferente? Vá atender o telefone!

07:14


Meu amigo do serviço, um dos caras que mais confio por aqui, e que, acreditava eu, não classificava as pessoas pela aparência, veio me falar: "imagina se você tivesse entrado aonde trabalhamos com 'esse meu corte de cabelo' na época? Não teriam te dado nenhuma responsabilidade! Iria, provavelmente, ficar atendendo o telefone"(sic).


Bárbara/2010:  Essa merece
 ter responsabilidades.
Primeiro me espantei, pois ele é um dos caras mais "alternativos" do meu setor. Gosta de se declarar alternativo, gosta de dizer que gosta de coisas alternativas... Ou seja, não iria esperar logo dele um pensamento desses. E, quando fui dizer que não concordava com o que ele disse, que o mundo já está muito evoluido para pensarmos desse jeito, todos os outros homens (oh, coincidencia, todos brancos e heterossexuais) interviram dizendo que o rapaz estava correto.


Me julguem de ingênua e inocente, e me falem o quanto quiser: que não vou conseguir emprego, que a sociedade é assim mesmo, que não adianta pensar diferente. Digam o que vier a cabeça. Desta vez sou eu que falo que não vou mudar minha opinião, que é a seguinte:


Bárbara/2012:
 Essa é uma vândala,
 que merece "só atender o telefone".
Acredito, veementemente, que as pessoas não devem ser classificadas por seu corte de cabelo ou estilo de se vestir, nem por sua quantidade de piercings e/ou tatuagens. Ser diferente não significa ser pior, ou ser menos merecedor de algo. 
E se, no futuro, eu tentar entrar em algum lugar que não me aceitem meramente por minha aparência, não era para eu entrar ali. E, caso eu queira mesmo entrar em um grupo com pessoas que tenham o hábito de discriminar, vai ser para mudar a mente de todos que estiverem me "pré-conceituando". 


Afinal, é ingenuidade demais acreditar que as pessoas mereçam ser aceitas do modo que são? É ingênuidade considerar que o CORTE DE CABELO não muda caráter? É normal julgar que, se um rapaz entrasse aqui com um moicano (ou rastafari, ou careca, ou qualquer coisa fora do comum), ele não teria capacidade de assumir uma responsabilidade?


Nisso fico pensando até quando vamos continuar repercurtindo esses preconceitos da época dos meus tata(...)ravós. Sim, eu sei que posso sofrer discriminação por conta da minha aparência no futuro (pois de pessoas pré-conceituosas o mundo ainda está cheio) mas vou sair por ai falando que concordo com isso? Que também penso isso? Lógico que não: vou ser a representação do que eu espero do mundo. E eu espero um mundo melhor, onde as pessoas NÃO sejam julgadas pela aparência. Ou melhor: onde as pessoas não sejam julgadas e ponto.


Ah, quase esqueci de um ponto importante para ser tocado ainda neste post:


Conte-me mais sobre sua grande carreira profissional e humanista, com ênfase no quanto você acredita ser a pessoa que atende o telefone mais ou menos digna de ter responsabilidades. Ou que a pessoa que atende o telefone já não tenha responsabilidades.


Meu cabelo mudou, mas meu caráter continua o mesmo. E você? Que tem o mesmo corte desde os 5 anos de idade e tem seu caráter cada vez pior?

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4 comentários

  1. Essa é a hipocrisia de um País que diz que luta por direitos iguais entre negros, homofóbicos e distingue alguém que se caracteriza por um corte de cabelo diferente. Eu confesso que isso já me doeu profundamente, quando, em uma entrevista de emprego o cara me disse: "vc tem todas as qualidades que eu preciso, mas não gostaria que viesse trabalhar de cabelo vermelho". E eu não fui mesmo, porque eu ergo minha bandeira e defendo esse preconceito que existe (ainda) na cabeça de muitos hipócritas por ai. Mas tem horas que realmente isso cansa, e dá uma vontade tremenda de mandar todo mundo pra pqp, ah dá...

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    1. Ah, com certeza Dayane. E este tipo de preconceito tá bem ali, nos familiares, nos amigos, nos colegas de trabalho... E quando você diz "ow, isso ai é preconceito", ninguém entende mesmo, afinal, não querem aparecer como preconceituosos né. Acabam por te criticar mais ainda e você que termina como "a radical da história". É osso viu? Mas não podemos ficar quietas nessas situações, senão elas nunca vão mudar ;)
      Até quando Brasil?

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    2. O cara alternativo do setor17 de maio de 2012 às 08:22

      Barbs, o único e grande detalhe que vc não entendeu e que por isso, não dei maior ênfase ao meu comentário, já que como vc mesmo disse, todos interromperam e colocaram suas opiniões, é que primeiro eu não tenho essa opinião, mas que é assim que a coisa acontece, e não tenho essa opinião apenas pq não tenho, mas tb pq eu te conheço, e ficaria triste, se não conhecesse e visse alguém te apontando pelos corredores qdo futuramente viesse a conhecê-la... o que eu queria dizer, agora que tenho a oportunidade de falar, é que agora, vc deverá abraçar suas causas ainda mais, lutar pelo que acha certo ainda mais e etc, já que a cada dia que passa eu te vejo "vestindo ainda mais a camisa" qto a tudo o que pensa... seria hipócrita da minha parte, se eu falasse que devemos julgar alguém pela aparência, eu que já tive cabelos diversos, fui clubber, e não tenho preconceito nenhum. vc sabe disso, mas achei legal da sua parte colocar isso em prática, pq me vi lendo isso agora e me achando pouco militante de algumas causas que estavam concretizadas em minha cabeça, pensava eu. Resumindo, quando adolescente eu sofri mto com minhas diferenças, tanto dentro de casa, com amigos, quando tentei trabalhar em algum lugar "padrão" e agora me vi mto tolerante...

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  2. Esse trecho em especial "Meu cabelo mudou, mas meu caráter continua o mesmo. E você? Que tem o mesmo corte desde os 5 anos de idade e tem seu caráter cada vez pior?" eu A-DO-REI =D

    Aliás, todo o texto é muito bom. Parabéns, Barbarinha =)

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