Testemunho de não-fé

14:13

Sempre fui muito curiosa e, durante muito tempo, "D"eus foi a única certeza que tinha na minha vida. Contudo, na minha auto-criação católica apostólica romana, nunca entendi por que uma mulher não poderia celebrar missas, nem por que todos os papas eram homens. Nem conseguia imaginar qual seria o real tamanho desse tal de céu, por que, segundo a minha religião, "não existiria a tal da reencarnação". Também não conseguia entender como um homem bonitão como o tal Jesus, tão idealizado por nós, poderia ter vivido 33 anos no mais completo celibato, mas até ai tudo bem. Eu era um protótipo de feminista mirim, que acreditava que conseguiria ser uma freira revolucionária que realizaria missas, e no fundo acreditava em reencarnação sim. 


Os problemas de verdade começaram esmo com a minha adolescência, onde afloraram mais perguntas, como "será que eu vim mesmo de Adão e Eva ou de um parente próximo dos macacos?" (vide aulas de biologia); "por que todos que creem na bíblia dizem que vamos para o céu quando morremos, quando lá diz que ficaremos na terra esperando o tal julgamento final?"; ou então: "como assim, somente 144.000 judeus irão pros Céus (apocalipse, 7:4), ou seja, já tô fora!” e coisas do tipo. E, com o tempo, veio minha atração por mulheres. Pronto, ai lascou de vez, além de ir direto pro inferno, vou sofrer em vida até cair pra lá.


Nisso frequentei outras seitas: igrejas evangélicas e seus cultos jovens (são mais pra cultos aeróbicos, a meu ver) - mas parei por que eram no sábado à noite e, convenhamos, eu tinha mais o que fazer dos meus sábados à noite. Também fui num centro espírita - mas parei por que fiquei com medo de ser verdade mesmo tudo que ouvia por lá. Fiz alguns dias de inglês nos mórmons, para ver se me enturmava, mas eles são mais fechados do que... Melhor nem comentar (sem contar que a bíblia deles é super diferente da minha "religião natal"). Ah, também aceitei fazer aquele curso de bíblia com evangélicos do 7º dia (sim, tive paciência para com eles e suas reuniões no sábado de manhã). Nada deu certo, nada solucionou minhas dúvidas - e o curso com as meninas do 7º dia me deu mais dúvidas ainda.


Nisso tudo, se já não fossem as dúvidas o suficiente, meus pais começaram a curtir certas crenças, depois de muito tempo sem religião oficial em casa. Foi o fim da minha permanência na casa deles: por conta da repentina convenção evangélica, a filha (nessas alturas) gay deles teve que cair fora. A única dúvida que tenho hoje é: como um "D"eus pode separar uma família? Como pode ser um "d"eus mais importante do que o amor por suas sementes, sangue do seu sangue?


Acontece que ainda tenho medo de falar que não acredito em nada, ao mesmo tempo em que todas as religiões me irritam. É como olhar para um pôr-do-sol lindo e pensar 'obrigada, "d"eus' e depois se odiar por isso. Sim, sou descrente, não acredito em livros, em religiosos, em curas ou salvações eternas. Se fosse para me auto-definir agora, digo que sou a favor da ciência, para a igualdade e respeito entre os seres e feliz. Não vou fazer boas ações apenas para agradar um possível "d"eus onipresente, e sim pela minha vontade de ajudar o mundo a ser um lugar melhor. Não vou ser hipócrita e julgar os outros de acordo com um livro escrito a dois mil anos atrás, sobre um cara que talvez nem existiu. Não quero pensar no que vem depois da morte, nem me regrar durante a vida por isso. Vou deixar para pensar nisso quando chegar lá.


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