Dia triste onde trabalho

11:30


Um dos contratos de prestação de serviços terceirizados daqui encerra-se hoje. Depois de meses recebendo salários sempre atrasados, muitas vezes com descontos desconfiáveis, dezenas de trabalhadoras e trabalhadores, "lotados" nos Câmpus e Reitoria da Instituição, baterão o ponto hoje e não voltarão amanhã.

São copeiras, jardineiros, auxiliares de limpeza, manutenção predial, enfim, pessoas detentoras de direitos e deveres como qualquer outra que também trabalhe nesses prédios públicos. Pessoas que assinaram seus respectivos avisos prévios há 29 dias e desde então esperam que lhes seja repassado o nome da ganhadora da nova licitação para poderem, ao menos, enviarem seus currículos para tentarem continuar trabalhando por aqui.

Pessoas que hoje estão, grande maioria, tristes por não saberem o que fazer amanhã. "Será que a nova empresa vai entrar em contato?", "Será que consigo emprego logo?", "Será que compensa entrar em outra terceirizada?" Pessoas que possuem família para manter, contas para pagar... E pra piorar, muitas não tem os 18 meses de carteira assinada para poderem dar entrada no seguro desemprego, ou seja: estarão amanhã no olho da rua mesmo.

As pessoas daqui pensam que isso (demissão em massa, desemprego, subcontratação, problemas trabalhistas) 'faz parte' do processo, pois os contratados "sabiam dos riscos" ao se submeterem à essas empresas, e logo acham minha comoção descabida. Bem, pra mim, descabida é essa terceirização dos infernos, que colocam o trabalhador humilde nessas situações precárias e retira praticamente toda responsabilidade da Administração pelas infrações trabalhistas cometidas por as ditas "empresas terceirizadas".

Na verdade, a banalização por aqui é tão grande que diversas vezes tive que entrar em conflito com os "servidores" que insistem (até hoje) não ver que chamar essas pessoas de "terceirizados" é desumanizá-los: "derrubei café aqui, chama a terceirizada pra vir limpar", "fala pro terceirizado fazer _____", etc. Absurdos e mais absurdos que escuto de uma dita parcela da população que possui (grande maioria) formação superior e se julga superior por ter passado numa prova - e não numa entrevista - para estarem trabalhando. Muitas sequer sabem o nome das pessoas que compartilham o ambiente de serviço há meses, quando não anos.

Tenho arrepios cada vez que leio uma nova tramitação da PL 4330/2004, pois sei que logo isso tudo pode piorar. Será?

Dia triste onde trabalho.


"A moca do café muito importante é
Para a saúde é vital à nossa empresa,
Se ela faz um café ruim, o dia de todos é ruim
(...)
Mas o salário dela não condiz, 
não condizia nem nunca condirá 
com a importância do café para a corporação.
O café no fim é produção!"

You Might Also Like

0 comentários

Páginas