Produção que não vemos: necessária, mas invisível

04:09

Estive num ônibus lotado esses dias e acabei por ouvir a conversa entre um senhor sentado atrás de mim e um menino. Ele dizia algo do tipo: “você tem que estudar muito para ser alguém na vida, senão fica velho que nem eu, tendo que carregar caixas pesadas até essas horas da tarde”. Na hora, até falou que “você tem que estudar muito menino, pra ser doutor, engenheiro, médico, e ai ficar sentado no escritório, só mandando nos outros”. 
Quando fui descer do ônibus, não me contive e fui conversar com esse senhor. Falei que acidentalmente ouvi a conversa dele com a criança e expliquei, carinhosamente, que não concordava com o que ele havia dito. Acontece que acredito que ele devia valorizar mais o trabalho dele, pois toda forma de trabalho é digna. 
Acabou que ele ficou emocionado e me disse que talvez estivesse errado com a forma que se expressou. E nisso eu fiquei emocionada de ter feito esse momento acontecer.
Então hoje li uma matéria sobre Jones Yuri Amaral que, quando menino, decidiu trabalhar como pipoqueiro ao crescer. Ele foi contra tudo o que dizem nas escolas, nas famílias, no imaginário popular... Afinal, como poderia uma criança querer “tão pouco” pra sua vida?
Acontece que hoje ele é dono da Flavored Popcorn, que é uma rede de barraquinhas de pipocas com franquias por todo o País, e ganha um bom dinheiro com sua profissão dita como “não convencional”. O que mais me assusta é reparar que, pra muita gente que eu conheço, um trabalho desses não é sequer uma possibilidade. É motivo de descaso, do tipo quando se fala “isso, não estuda, daí vai ser lixeiro quando crescer”. Sem pensar o quanto o trampo do lixeiro é importante.
O que me lembra de uma música muito boa que ouvi esses dias, que divaga sobre como a moça do café influencia na produção - na verdade, uma ótima crítica, enfim. Vou deixar ela aqui para quem ler também se deliciar com mais uma ótima da nossa música brasileira.
Sim, toda forma de trabalho é digna.

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